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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O Sexo dos Números

O gênero é algo tão fundamental para a nossa forma de entender o mundo que as pessoas tendem a atribuir um sexo até mesmo aos objetos inanimados. A verdade é que isso vem de tão longe que o nosso idioma herdou o sexo dos objetos. Quem nasce no Brasil vê o sexo das coisas substancialmente de quem nasce em muitos países do hemisfério norte. Diferente do inglês onde o gênero inclui masculino, feminino e “neutro”, no português as coisas são definitivamente sexuadas. É homem ou é mulher. A mesa é feminina, mas o fogão é masculino. O chimarrão é masculino mas a chaleira só pode ser feminina...

Dentro destes pormenores, uma nova pesquisa sugere que a nossa tendência de ver sexo em todos os lugares se aplica também aos números.

Claro que isso causa alguma confusão aqui na terra tupiniquim. A gente admite que os números pares sejam “femininos” e os ímpares “masculinos”...mas, todos os numerais sem excessão vem atrelados a um conceito de que são “masculinos”.



Será que a gente veria o número um como o de um super galã...enquanto nos deleitaríamos com a “sensualidade inequívoca” do oito como fator feminino...na prática contabilista pode parecer difícil, senão impossível ver um número como “feminino”, porque estes sempre vão vir atrelados à palavra “número” na frente...

Como número, em português, todos são portanto, masculinos.
Mas se a gente ao invés de “número” coloca o termo “vibração” por exemplo, tudo mudará de figura. Neste caso, todos os números vão automaticamente mudar de sexo.
O um vai ser a bela do 1. O 8 vai ser a belle terrible que destroça corações...e assim vai.

Os cientistas já sabem há muito tempo que a linguagem pode influenciar a forma como percebemos o sexo nos objetos. Algumas línguas consistentemente referem-se a certos objetos como sendo homem ou mulher, e esta dedução, por sua vez, influencia o modo como falantes dessa língua expõe pensamentos a respeito deles. Webb Phillips, do Instituto Max Planck, Lauren Schmidt de Ligh Research, e Lera Boroditsky na Universidade de Stanford pediram para pessoas bilíngües de espanhol e de alemão para avaliarem vários objetos conforme se pareciam mais semelhantes aos machos ou fêmeas. Eles descobriram que as pessoas avaliaram cada objeto de acordo com o seu gênero gramatical. Por exemplo, os alemães viram a lua como sendo mais como um homem, porque a palavra alemã para lua é gramaticalmente masculina ("Der Mond"). Em contraste, a língua espanhola vê a lua como sendo mais parecido com uma mulher, porque em espanhol a palavra para lua é gramaticalmente feminina ("la Luna").
 
Além da linguagem, os objetos também podem estar infundidos com o gênero a partir da base em suas aparências, fatos obtidos pela prática usual em que estes são utilizados associados a homens ou mulheres. David Gal e James Wilkie, da Northwestern University estudaram como as pessoas vêem sexo em objetos do cotidiano, como alimentos e móveis. Eles descobriram que as pessoas viam os pratos de alimentos à base de carne como “mais masculinos” e os que eram feitos à base de saladas e molhos como “mais femininos”. Também ficou provado que as pessoas vêem itens de mobiliário, como mesas e latas de lixo, como mais femininas quando estes se apresentam arredondados, ao invés de terem pontas em suas bordas.
 
Wilkie, em parceria com o colega da Northwestern, o psicólogo Galen Bodenhausen, uniram-se para demonstrar que esta tendência de atribuir gênero aos objetos se estende até mesmo aos conceitos altamente abstratos. Eles realizaram um experimento onde pediram aos participantes que possuíam sobrenomes com “gênero”, por exemplo, "Medeiros" e "Lara". Eles criaram o experimento para determinar se haveria uma tendência das pessoas serem influenciadas nas opções designativas dos objetos a partir destes conceitos em termos de se parecerem com um gênero masculino ou feminino.

O resultado revelou algo incrível. Quando um nome era emparelhado com o padrão 1, era mais provável de ser classificado como masculino. Quando o mesmo nome era emparelhado com o número 2, as pessoas eram mais propensas a classificá-lo como feminino.
 
Isso nos coloca ante um fato extraordinário...podemos definir "a tendência" sexual do nome a partir das atribuições sociais destes.
 
Quando eu li isto, "de cara" imaginei que um cologa de trabalho que se chama Zé Maria passava por isso.
 
Se alguém lhe pede para identificar o sexo de uma pessoa a partir do nome, ela vai tender a seguir o padrão dado. Ai se a gente então diz, olha, o segundo nome é "Maria", qual é o sexo da pessoa...você acha que sendo este um nome "feminino" a pessoa segue a onda...
 
Wilkie e Bodenhausen pediram às pessoas para explicarem a forma como tomaram suas decisões, mas nenhum de seus participantes relataram que os números haviam influenciado suas classificações dos nomes.
 
Em outro estudo, Wilkie e Bodenhausen mostraram fotos de bebês as participantes e pediram-lhes para determinarem em cada foto a probabilidade do bebê ser do sexo masculino. Eles descobriram que quando a foto do bebê era apresentada unida ao padrão número 1, as pessoas ficavam muito mais propensas a pensar que o bebê era do sexo masculino. Mais uma vez, as pessoas não relataram nenhuma consciência de que os números estavam influenciando suas percepções.

Em um estudo separado, os pesquisadores colocaram os participantes para avaliar a tendência masculina ou feminina de seus próprios números. As pessoas prontamente avaliaram o número 1, bem como outros números ímpares, como sendo mais masculinos. Elas também avaliaram o número 2, e outros números pares, como parecendo mais femininos. Esta última descoberta foi replicada com uma amostragem da Índia, emprestando seus resultados de suporte no cruzamento-cultural.
 
Por que os números ímpares, em todas as culturas tendem a ser associados com a masculinidade?
 
Enquanto mais pesquisas são necessárias para uma resposta sólida, eles podem ter algo a ver com os estereótipos de gênero. Wilkie e Bodenhausen pretendem explorar esta hipótese em estudos futuros, vendo se as pessoas associam números ímpares com qualidades mais estereotipadas masculinas, como dominância e independência.
 
Nossa tendência para atribuir aos números de gênero tem uma longa história. Tanto a filosofia pitagórica da Grécia antiga e da filosofia chinesa do yin e yang via os números como possuindo gênero. Ambas as culturas também viram números ímpares como números masculinos e e os pares como femininos.
 
A nossa tendência de ver sexo em tudo, até mesmo nos números, é um lembrete de como o gênero fundamental é a forma como percebemos o mundo. Quando a pessoa é levada a acreditar que um objeto possui um sexo ou outro, ela muda a forma como se relaciona com o objeto. Por exemplo, os pesquisadores de Stanford Clifford Nass, Youngme Moon, e Nancy Green colocaram as pessoas a interagir com um computador que foi programado para ter tanto um som de voz masculina como feminina. Eles descobriram que quando o computador tinha uma voz feminina, as pessoas viam o computador como menos amigável, confiável e experiente, em comparação com o computador com o som másculo. As pessoas declaravam isso abertamente, apesar de saberem perfeitamente que estavam fazendo julgamentos sobre uma máquina e não sobre uma pessoa real.
 
Não é nenhuma surpresa descobrirmos o que a maioria das pessoas vai perguntar aos novos papais e mamães: elas vão tentar saber se eles tiveram um menino ou uma menina!
Quando não sabemos o sexo de alguém, isso cria confusão em nossas mentes – e ficamos sem ideia do que construir em cima...
 
Sexo ajuda-nos não só a entender como pensar em alguém, ou algo, mas também nos ajuda a descobrir o que a pessoa ou o relacionamento de uma coisa tem para com o resto do mundo. Nossos cérebros não podem deixar de ver sexo em todos os lugares para onde olhemos.

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